A necessidade de realizar alterações ao sistema curricular prende-se com o que Miguel Monteiro de Barros chama de «manualização do ensino», ou seja, o facto de «as escolas começarem a considerar,não os programas como documento regulador das aprendizagens, mas os manuais». «Os manuais tornam-se programa», explicita. Esta prática está, segundo o responsável, na origem do curriculum overload [sobrecarga dos currículos], já que é resultado de um constante enriquecimento dos manuais escolares com recursos e conteúdos, feito pelas editoras para ganhar vantagens competitivas. «Como o mercado é livre em Portugal e há competição, eles vão introduzindo mais coisas, mais conteúdos, mais uma coisa aqui, outra ali para serem mais atrativos», explica o responsável que também é autor de manuais escolares. «Às tantas temos situações em que, dez anos depois, os professores nem sequer se lembram do que é realmente o programa.» Mas, se assim é, não deviam as AE ser mais específicas e restritivas, para limitar esse problema? «Considerou-se que tinham de ser um pouco abrangentes para poder caber um todo. Depois percebemos que quando as pessoas vão elaborar os manuais… se calhar isso tinha de ser muito mais clarificado. Mas muitos outros temas têm de ser muito mais clarificados», assume Marta Torres, docente de História, autora de manuais e membro do grupo de trabalho que elaborou as AE. É que a interpretação da matéria está sempre dependente dos autores dos manuais que têm «autonomia sobre a forma como as temáticas são abordadas», sendo os manuais posteriormente «certificados e avaliados por entidades independentes», conforme referido por Hélder Pais, da DGE. Seja como for, as mudanças que foram feitas são um fraco remédio para um problema que Miguel Monteiro de Barros e Marta Torres consideram ser mais complexo. «Para isso mudar radicalmente, tem de ser algo estrutural e nem sempre é em dois, três ou quatro anos. Aliás, as AE são de 2018. Houve uma resistência imensa e às vezes ainda há pessoas que ainda lecionam com [as antigas] MC», diz a docente. Além disso, o que é ensinado em sala de aula depende, em última instância do(a) professor(a), dos seus métodos de ensino, e da sua interpretação das AE. Este é um aspeto muito sublinhado pelos responsáveis que referem,assim, que cada docente pode sempre mencionar e aprofundar outros aspetos que considere relevantes.

https://gerador.eu/a-descolonizacao-dos-manuais-de-historia-continua-por-concretizar/

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