José Mattoso
Não é de admirar que o lugar ocupado pela disciplina de História nos programas do Ensino Básico e Secundário tenha sido profundamente afetado pelas vicissitudes das Ciências Sociais nas últimas décadas deste século. Com o surto que conheceram no após-guerra, quando se pensava que serviriam de orientação para uma nova estruturação da sociedade num mundo mais justo e menos conflituoso, pareceu necessário introduzir as suas noções elementares no ensino básico e secundário. Agora, chegados ao fim do milénio, desiludidos pelo escasso contributo que deram de facto para a emergência desse “maravilhoso mundo novo”, que teima em se manter distante, pergunta-se se não é melhor abandoná-las e substituí-las por conhecimentos mais concretos e com uma incidência mais direta na preparação para a vida profissional. As generalidades e abstrações a que têm de ser reduzidas a este nível do ensino torna-as praticamente inúteis. A História, porém, não deve ser englobada nesta apreciação.
Refletindo bem, chega-se à conclusão que mais vale regressar aos velhos paradigmas que privilegiavam o Português e a Matemática. Trata-se de aprender a falar e a escrever para poder comunicar, e de adquirir as noções relacionadas com o domínio da quantidade, sem as quais não se pode exercer uma profissão no mundo técnico em que vivemos. Mas é preciso não esquecer a História, que também fazia parte do elenco das disciplinas essenciais do ensino elementar. É por meio dela que se adquire a consciência do tempo social. Da solidez do ensino destas três disciplinas depende a solidez de tudo o mais.
Penso, de facto, que a História deve ser colocada ao lado das outras duas disciplinas cuja importância fundamental acaba de ser reconhecida oficialmente. Ao contrário das outras Ciências Sociais, é indispensável para inculcar a noção da diacronia e da dimensão social total do mundo em que vivemos. Tudo o que é humano se passa no tempo e no espaço e tem atores e responsáveis. Nada melhor do que narrar, de tudo o que se passou no Universo, aquilo que nos diz respeito, por ter condicionado direta ou indiretamente a comunidade em que vivemos, para adquirir a noção do lugar da pessoa no mundo. Sem a História, porém, não se pode ter a noção de tempo e sociedade.
José Mattoso
(Abril de 1998)