Keith C. Barton

A disciplina de História reveste-se de uma grande importância no mundo moderno, apesar de as pessoas diferirem na sua compreensão da natureza e do objetivo do conhecimento histórico. Para os educadores, a disciplina envolve a análise de relações causa e efeito, numa tentativa de compreender como é que a sociedade humana evoluiu com o passar do tempo. Enquanto que outros educadores podem usar a História como fonte primeira de lições morais, ou como uma maneira de identificar heróis e vilões, para celebrar ou condenar. De uma mesma maneira, para algumas pessoas a História surge como fonte de identidade individual e pessoal, uma história que explica quem somos, de onde viemos, como família, comunidade, nação ou etnia. Outros ainda podem considerar o passado como uma forma de divertimento ou de preenchimento pessoal – uma área de mobiliário antigo, edifícios restaurados e saídas para ruínas pré-históricas. A maioria de nós, de facto, usamos provavelmente a História para todos estes fins numa dada altura.

Este leque de perspetivas tem um impacto significativo no nosso papel de educadores de história. Os alunos chegam até nós já sabendo algo de História, e cresceram num contexto social no qual a história é importante – mas o que eles sabem, e as fontes desse conhecimento, não são só limitadas ao estudo académico da História na Escola. Os alunos aprendem acerca do passado não só pelos seus professores, mas também pela família, pares, organizações políticas e sociais e através dos media. Se ignorarmos estas influências, as nossas representações da História tornar-se-ão irrelevantes. Os alunos não irão preocupar-se com conhecimentos que só são importantes na escola, ou que estão desconexos com o que eles já aprenderam. E se afrontarmos os pré-conceitos dos alunos demasiado diretamente – por denegrir a História popular, como sem sentido, ou por argumentar que só a História académica é objetivamente correta – podemos criar uma resistência que nos impede de alargar os conhecimentos dos alunos. Nos EUA, por exemplo, qualquer tentativa de ensinar a interação das pessoas durante o período da Conquista Europeia das Américas levar-nos-á a acusações de que os educadores estão a tentar destruir os grandes feitos da Civilização Ocidental.

Se esperamos ensinar História dentro deste leque de perspetivas, temos de reconhecer a legitimidade de diferendos de ideias acerca do passado, e temos de dar aos alunos as ferramentas intelectuais necessárias para que eles possam tirar delas o seu próprio significado. Em vez de ignorar os intuitos de aprender História, por exemplo, devemos envolver os alunos em discussões intelectuais acerca do lugar da História na sociedade contemporânea. Devemos ajudar os alunos a analisar as diferentes representações históricas – na escola e fora dela – e ajudá-los a entender os propósitos desses relatos, bem como eles foram produzidos. De onde nos chegam as imagens e textos históricos? Como estão estruturados? Como podemos assegurar a sua fiabilidade? Estas são algumas questões que são tão importantes para histórias familiares ou populares como para textos académicos. Ao enfatizar a ampla relevância destas questões (e as capacidades necessárias para lhes dar resposta) podemos ser capazes de ligar a História às ideias prévias dos alunos ao mesmo tempo que expandimos o seu conhecimento do passado e a sua capacidade de examinar criticamente as fontes desse conhecimento. Esta forma de entendimento histórico flexível e útil irá beneficiar mais os alunos do que decorar (e depois esquecer) uma lista de conteúdos históricos.

Isto pode parecer um objetivo grandioso, até que nos lembremos que os estudantes têm de pôr hipóteses sobre o que é a História, quer nós os tentemos ajudar ou não, e que a compreensão não é uma questão de tudo ou nada.

Uma abordagem que reconhece a importância de ensinar História, não apenas versões do passado, tem o mérito adicional de tirar algum vigor aos argumentos sobre que conteúdos ensinar. Os estudantes não aprenderão apenas uma versão do passado, portanto as preocupações sobre qual delas será a melhor, ficam de certa forma esbatidas. Eles irão aprender porque é que algumas versões ou explicações são mais seguras do que outras.

Keith C. Barton

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